Deus é justiça! “A honestidade e a justiça são as bases do
teu reinado. Tu és fiel e amoroso em tudo o que fazes.”(Slm 89:14)
Lendo os jornais desta
semana, deparei-me com a grande preocupação da mídia em relação ao julgamento
do chamado “mensalão”. Trata-se do julgamento que será feito pelo Supremo
Tribunal Federal de políticos envolvidos em um velho, porém sempre atual esquema
de corrupção nas altas esferas do governo.
Resumindo o processo: vários
parlamentares e outros envolvidos são acusados de terem recebido dinheiro em
troca de se omitirem e votarem sempre a favor das ações desonestas do governo.O “mensalão” é o salário
pago pela omissão daqueles que têm a obrigação apontar os erros do governo; o “mensalão”
é o preço pago pela consciência dos desonestos.
Obviamente que o
resultado do julgamento não agradará em nada a opinião pública que exige sempre
uma condenação exemplar aos políticos corruptos. Nenhum ser racional acredita
que os verdadeiros culpados serão condenados, até mesmo porque os verdadeiros
culpados nem fazem parte do processo. Os “verdadeiros” culpados não sabiam de
nada, estavam alheios ao mar de corrupção que os rodeava e que os havia
colocado no poder. Ou seja, a coisa toda é pura encenação, show e fantasia! É o
circo Brasil!
E não deveríamos mesmo esperar
nada de diferente em um país onde a lei que impera na vida das pessoas é a
vontade de sempre levar vantagem em qualquer situação; conseguir o maior ganho
com o menor esforço; alcançar as maiores benções com os menores padrões de
santidade; ser ouvido por Deus aos berros sem um pingo de humildade e serviço
ao próximo. Ora, onde a ética da vida privada está invertida, a justiça pública
se torna uma privada!
Mas por incrível que
pareça, a maioria das pessoas ainda espera algo de bom da justiça deste mundo. Infelizmente,
nos preocupamos muito com a justiça do mundo e pouco com a justiça de Deus. Se
nos preocupássemos mais em entender e imitar a justiça de Deus, estaríamos libertos
das aflições e frustrações em relação à justiça humana.
O que é a justiça de Deus?
O significado básico de
justiça é: “dar a cada um o que merece”. A primeira distinção entre a justiça
de Deus e a justiça dos homens é que os homens julgam apenas as pessoas e os fatos e não
as causas interiores. Todavia, Deus julga as pessoas e as causas mais profundas,
conforme parâmetros imperceptíveis. “Você
pode dizer que o problema não é seu, mas Deus conhece o seu coração e sabe os
seus motivos. Ele pagará de acordo com o que cada um fizer.”(Provérbios 24:12)
O julgamento de Deus é
profundo e vai além das coisas que estão visíveis nas pessoas e nos fatos. Por
isso, a justiça de Deus é inquestionável. Ele vê e conhece o que o homem nem
sequer imagina que existe. Só o criador conhece as engrenagens de sua criação. Deus
executa seu julgamento segundo a sua santa e perfeita vontade. Sentimo-nos
injustiçados por desconhecermos e não praticarmos a real vontade de Deus. “Mas quem é você, meu amigo, para discutir
com Deus? Será que um pote de barro pode perguntar a quem o fez: ‘Por que você
me fez assim?’” (Rom 9:20)
Onde podemos identificar a justiça de Deus?
A justiça de Deus é perceptível
na premiação dos justos e no castigo aos infiéis. Os justos podem sofrer aflições
momentâneas, afinal, a justiça humana nunca é perfeita. Mas há uma premiação eterna
reservada, não porque os fiéis mereçam, mas em razão da promessa de Deus. “Deus não é injusto. Ele não esquece o
trabalho que vocês fizeram nem o amor que lhe mostraram na ajuda que deram e
ainda estão dando aos seus irmãos na fé.”(Heb 6:10)
Deus é justo ao permitir que os infiéis
prosperem?
É comum ver a impunidade
e a injustiça nos tribunais humanos. Mas Deus não é injusto. Todavia, ele permite
a injustiça como forma de castigar uma sociedade alienada de seus valores e de
suas exigências. Deus permitiu, por exemplo, que o rei da Babilônia escravizasse o povo de
Israel como forma de puni-los pela idolatria. Porém, a soberba do rei não durou
para sempre. Nabucodonozor foi duramente punido e o reino da Babilônia ruiu em
pouco tempo.
Deus também permite a
prosperidade do infiel como instrumento de misericórdia, dando-lhe tempo e
oportunidades graciosas para que o arrependimento brote em seu coração
endurecido e embrutecido. Deus adia o seu julgamento, mas não anula a sua
justiça. “Eu lhe dei tempo para
abandonar os seus pecados, porém ela não quer deixar a imoralidade.”(Apo 2:21)
Deus ainda deixa os
infiéis se darem bem por algum tempo como forma de testar a confiança dos seus
escolhidos em esperar o tempo de Deus e deixar que busquem refúgio na presença
do altíssimo. “Porém, quando vi que tudo
ia bem para os orgulhosos e os maus, quase perdi a confiança em Deus porque
fiquei com inveja deles... Porém, quando fui ao teu Templo, entendi o que
acontecerá no fim com os maus. Tu os pões em lugares onde eles escorregam e
fazes com que caiam mortos.”(Slm 73:3;17-18)
Deus é justo ao permitir que o justo sofra
aflições?
As aflições do santos
podem ser motivadas em razão de suas falhas. Santo Agostinho dizia que os
caminhos de Deus para julgar podem ser secretos, mas nunca injustos. O Senhor
não aflige seu povo sem algum propósito definido. Os próprios filhos de Deus
apresentam manchas e precisam passar por um processo de purificação, quase
sempre doloroso. As aflições são provas do amor disciplinador de Deus. “No mundo inteiro, vocês são o único povo
que eu escolhi para ser meu. Por isso, tenho de castigá-los por causa de todos
os pecados que vocês cometeram.”(Amós 3:2)
As aflições são também uma
forma de nos tornarmos participantes da santidade vinda de Deus. “...mas Deus nos corrige para o nosso
próprio bem, para que participemos da sua santidade.”(Hebreus 12:10)
Deus é justo ao salvar uns e punir outros?
Embora uns sejam salvos
e outros pereçam, não há injustiça por parte Deus, pois quem se perde é culpado
por isso. Se uns recusam livremente a oferta da graça, seus pecados devem ser
considerados como causa de sua perdição, mas não a justiça de Deus. “A tua ruína, ó Israel, vem de ti, e só de
mim, o teu socorro.”(Oséias 13:9)
Eis aí uma pedra de
tropeço para a fé de muitos. A tendência diabólica de querer limitar a justiça
de Deus aos padrões humanos é fonte de rebelião. Deus é soberanamente livre em
suas decisões. A pecaminosidade humana é tão profunda que nos impede de uma
compreensão plena da escolha de Deus em favor de seus fiéis. “Pois
o homem que faz o pote tem o direito de usar o barro como quer. Do mesmo barro
ele pode fazer dois potes: um pote para uso especial e outro para uso comum. E
foi isso o que Deus fez. Ele quis mostrar a sua ira e tornar bem conhecido o
seu poder. Assim suportou com muita paciência os que mereciam o castigo e que
iam ser destruídos. Ele quis também mostrar como é grande a sua glória, que ele
derramou sobre nós, que somos aqueles de quem ele teve pena e a quem ele já
havia preparado para receberem a sua glória.”(Romanos 9:21-23)
Conclusão
Até aqui, vimos a
grandeza da justiça de Deus e a podridão da justiça humana. Porém, cabe ao
homem que tem fé verdadeira, ao invés de tanto questionar, buscar imitar sua
santa e pura justiça através de regras bem simples. Podemos denominar esta
regra de “ética da simplicidade”, que consiste em praticar um princípio bem
simples dado pelo próprio Deus em sua Palavra: “Façam aos outros o que querem que eles façam a vocês; pois isso é o
que querem dizer a Lei de Moisés e os ensinamentos dos Profetas.”(Mateus 7:12)
Antes de cobrar posturas severas de
governantes ímpios e infiéis, devemos cobrar posturas éticas e sérias de nós
mesmos. Se você não quer ser enganado, então não engane. Antes, sofra o engano,
mas não engane.Ser ético é fazer o que é certo e desprezar o errado. Preocupemo-nos em sermos exemplos em nossa justiça diária, em
nossos relacionamentos, em nossos posicionamentos diante do mundo.
Calma! Deus é justo e
haverá um dia de julgamento. Um julgamento definitivo e perfeito. Agora as
coisas estão sem rumo, o pecado é crescente, e não encontraremos justiça
perfeita aqui, mas o dia se aproxima quando Deus endireitará todas as coisas.
Deus fará justiça a todo homem, coroará o justo e condenará o infiel. “Pois ele marcou o dia em que vai julgar o
mundo com justiça, por meio de um homem que escolheu. E deu prova disso a todos
quando ressuscitou esse homem.”(Atos 17:31)
“Mas, se alguém sofrer por ser cristão, não fique envergonhado, mas agradeça a Deus o fato de ser chamado por esse nome. Pois o tempo de começar o julgamento já chegou, e os que pertencem ao povo de Deus serão os primeiros a serem julgados. Se esse julgamento vai começar conosco, qual será o fim daqueles que não crêem no evangelho de Deus?”(1Pe 4:16-17)
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